janeiro 13, 2010

A dor do não vivido


Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas
e não se cumpriram.

Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer,
apenas agradecer por termos conhecido
uma pessoa tão bacana,
que gerou em nós um sentimento intenso
e que nos fez companhia por um tempo razoável,
um tempo feliz.

Sofremos por quê?

Porque automaticamente esquecemos
o que foi desfrutado e passamos a sofrer
pelas nossas projeções irrealizadas,
por todas as cidades que gostaríamos
de ter conhecido ao lado do nosso amor
e não conhecemos,
por todos os filhos que
gostaríamos de ter tido junto e não tivemos,
por todos os shows e livros e silêncios
que gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados,
pela eternidade.

Sofremos não porque nosso trabalho é
desgastante e paga pouco,
mas por todas as horas livres
que deixamos de ter para ir ao cinema,
para conversar com um amigo,
para nadar, para namorar.
Sofremos não porque nossa mãe
é impaciente conosco,
mas por todos os momentos em que
poderíamos estar confidenciando a ela
nossas mais profundas angústias
se ela estivesse interessada
em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu,
mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos,
mas porque o futuro está sendo
confiscado de nós,
impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos e
nunca chegamos a experimentar.

Como aliviar a dor do que não foi vivido?

A resposta é simples como um verso:
Se iludindo menos e vivendo mais!!!

A cada dia que vivo,
mais me convenço de que o
desperdício da vida
está no amor que não damos,
nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca,
e que, esquivando-se do sofrimento,
perdemos também a felicidade.


A DOR É INEVITÁVEL.
O SOFRIMENTO É OPCIONAL.

Carlos Drummond

3 comentários:

Mônica Modesto disse...

MUITO lindo...vou copiar para mim...huehueheuhe... Bjs

Psy disse...

Esse texto é o meu favorito entre tantos bons poemas da língua portuguesa. Bem, esse poema me lembra a música 50 receitas de Leoni, que tive o imenso prazer de estar em um show dele. Fazendo um diálogo cultural entre poema e música (pois muitas muisicas são verdadeiras poesias) acho que a música toda tem haver com o poema em especial esse trecho:

"O que me dá raiva
Não é que você fez de errado
Nem seus muitos defeitos
Nem você ter me deixado
Nem seu jeito fútil
De falar da vida alheia
Nem o que eu não vivi
Aprisionado em sua têia...

O que me dá raiva
São as flôres
E os dias de sol
São os seus beijos
E o que eu tinha
Sonhado prá nós...

São seus olhos e mãos
E seu abraço protetor
É o que vai me faltar
O que fazer do meu amor?."

Psy disse...

"Como aliviar a dor do que não foi vivido?

A resposta é simples como um verso:
Se iludindo menos e vivendo mais!!!"

Penso que aliviar a dor do não vivido é algo difícil pois existem dores que são necessárias e estruturantes para que no futuro o sujeito aprenda lições, amadureça e se torne uma pessoa melhor.

Se iludir menos é algo que podemos tentar no entanto, muito da nossa vida são ilusãoes pois , por mais que tentemos provar ao contrário o ser humano é um sujeito que está limitado por 3 tempos : passado, presente e futuro. No entanto a fonte da maior parte das ilusões é que vivemos a maior parte de nosso tempo no passado e no futuro.